“Por seis dias trabalhareis e neles realizareis todas as vossas tarefas...”A base para o Shabat é, portanto, o trabalho, dignificado por se constituir numa ordem Divina. O trabalho não é uma degradação, mas, sim, um sagrado direito de nascença de cada ser humano.
Quantos distúrbios sociais, quanta miséria, quantas guerras e revoluções e quanto derramamento de sangue poderiam ter sido evitados se o ideal bíblico da dignidade do trabalho fosse, desde o início, a base da ordem social.
A tradição judaica nos relata que Adão se reconciliou com seu destino somente quando lhe foi dito que deveria trabalhar. O trabalho é realmente a prerrogativa do homem criativo que nasce gozando de liberdade.
Liberdade espiritual
Entretanto, o trabalho não é tudo. Ele pode tornar o homem um ser livre, mas o próprio homem pode se tornar escravo de seu trabalho.
O Talmud relata que, quando Deus criou os céus e a terra, eles começaram a se expandir de forma incessante, até que Ele lhes ordenou: “Basta!”
A ação criativa do Eterno foi seguida pelo Shabat, quando, deliberadamente, Ele cessou Sua atividade criativa. Isso, mais do que qualquer outra coisa, mostra-nos Deus como o Criador e o Soberano do mundo, que o controla com total liberdade e estabelece limites para a Criação que Ele materializou de acordo unicamente com Sua vontade – um Criador com Seu próprio propósito.
Portanto, não foi a “atividade”, mas a “cessação de atividade”, o que Ele escolheu como o sinal de Sua absoluta liberdade na Criação do mundo.
É pela cessação de atividade a cada Shabat, de acordo à forma prescrita pela Torá, que o judeu presta testemunho do poder criativo do Eterno. É assim, também, que cada judeu revela a verdadeira grandeza do ser humano.
As estrelas e os planetas, tendo iniciado seu eterno movimento pelo Universo, continuam fazendo-o cegamente, conduzidos pela lei de causa e efeito. Já o homem, por um ato de fé, pode impor um limite a seu labor, de modo que não se degenere para uma labuta sem qualquer propósito.
Ao guardar o Shabat, o judeu se torna, como dizem os nossos sábios, domê le-Iotsrô – “semelhante ao seu Criador”. Como o Eterno, ele é senhor de sua obra, não seu escravo.
O homem é, de fato, superior a outras criaturas; entretanto, ele o é somente se, conscientemente, coopera com o plano do Eterno para o Universo, fazendo uso de sua liberdade para servir a Deus e a seus semelhantes. Então, ele se torna, como dizem os nossos sábios, “sócio do Eterno, na obra da Criação” (Tratado de Shabat 10a).
Ao mesmo tempo, porém, a própria liberdade do ser humano pode conduzi-lo à sua queda. Seu domínio sobre a natureza, que o capacita a controlá-la e dirigi-la, a domar sua energia, moldá-la e adaptá-la a seus desejos – esses mesmos poderes podem, de uma maneira fatal, fazer com que ele se considere um criador que não tem de prestar contas a ninguém mais elevado que ele.
Em nossa época, temos visto o que acontece ao mundo e à humanidade quando essa ideia prevalece. Eis, porém, que nesse ponto vem o Shabat para resgatar o ser humano.
Como veremos com mais detalhes mais adiante, talvez nisso esteja o aspecto mais relevante da observância do Shabat.
Podemos nos aperceber e reconhecer na harmonia do Universo a verdade básica de sua criação Divina. Entretanto, para a maioria dos seres humanos, o que isso significa? Na verdade, muito pouco. Mas aqui, como sempre em relação à Torá, não bastam meras teorias; é necessária a prática das ações, ou seja, a consequência prática desse reconhecimento. Só dessa forma a doutrina torna-se algo significativo. “Para viver no mundo por Ele criado como Suas criaturas, devemos usar todas as capacidades humanas a Seu serviço.” Só assim será justificada nossa existência e, ao mesmo tempo, estará assegurado nosso próprio bem-estar e o de toda a raça humana.
As leis do Shabat nos provêm as considerações práticas necessárias para manter esse princípio destacado em nossas mentes. Nesse dia nos abstemos do exercício de nossos poderes humanos característicos, de produzir e criar no mundo material. Com essa inatividade, depomos esses poderes aos pés do Eterno como uma homenagem Àquele que a nós os concedeu.
Essa ideia básica sobre o Shabat será desenvolvida de forma mais ampla nos próximos capítulos. Entretanto, se apurarmos nossos ouvidos, poderemos mesmo agora perceber o que o Shabat está tentando nos dizer. De fato, ele proclama a cada semana a mesma coisa que O Eterno disse ao primeiro ser humano:
“Fui Eu que te coloquei nesse mundo, que é Meu; para ti criei tudo isso. Que tua mente atente para isso, para que não venhas corromper e destruir Meu universo.” (Eclesiastes 7:9) Eis aqui a pura essência do Shabat. O mesmo ato que proclama a liberdade do homem declara também sua submissão ao Eterno. Usar todos os nossos poderes a serviço de Deus – eis a maior de todas as demonstrações de liberdade. O Shabat é, portanto, um protesto Divino, repetido a cada semana, contra a escravidão e a opressão.
“Feliz é o homem que faz isto, e o filho do homem que a isto se apega: guarda o Shabat e se abstém de profaná-lo – e guarda sua mão de praticar qualquer mal.” (Is 56.2) A mesma ideia de identificar o Shabat com as mais altas aspirações na terra é expressa por Neemias (9:13):
“Desceste sobre o monte Sinai e com eles falaste dos céus, concedendo-lhes julgamentos corretos, leis verdadeiras, bons estatutos e mandamentos – e deste-lhes a conhecer Teu sagrado Shabat.”
O Shabat no Egito
“Moisés se regozijará com a dádiva de sua porção.”
Trecho da prece matinal do Shabat
“Moisés cresceu e foi a seus irmãos e viu seu trabalho pesado.” (Êxodo 2:11) O Midrash relata que Moisés (que fora salvo do Nilo pela filha do Faraó e educado em seu palácio) viu como seus irmãos trabalhavam sete dias por semana, sem qualquer descanso.
Então ele trouxe ao Faraó o seguinte argumento: “A força de trabalho judaica é muito importante e benéfica para o reino. Se continuares a fazêlos trabalhar sem a possibilidade de um descanso, eles enfraquecerão e morrerão.”
“O que então sugeres que eu faça?” – perguntou o Faraó.
“Conceda-lhes um dia por semana para que repousem de seu trabalho” – replicou Moisés – “e assim eles recobrarão sua energia para outra semana de trabalho produtivo.”
A ideia agradou ao Faraó, que mandou Moisés escolher o dia que considerasse mais adequado para isso. E aconteceu que Moisés escolheu o sétimo dia para o descanso. A partir de então, os oprimidos judeus se juntariam a cada sétimo dia, e seus anciãos leriam para todos velhos manuscritos herdados da casa de seu antepassado Jacob. Contar-lhes-iam sobre o início do povo judeu e sobre as vidas e aspirações de seus grandes ancestrais, Abrahão, Isaac e Jacob, e sobre a promessa que o Eterno havia feito a Abrahão de que, um dia, haveria de redimir Seus filhos da escravidão.
Quando, algumas décadas mais tarde, o povo judeu deixou o Egito e foi receber o mandamento de observar o Shabat, Moisés ficou deliciado por ver que o dia que ele havia escolhido para descanso coincidia com o da escolha Divina – o dia que o Eterno designara como o ponto focal da semana, quando o povo judeu se conecta com o Senhor do Universo num convênio de fé.
(Baseado no Midrash Rabá, Êxodo 1:28; 5:18; Orach Chayim capítulo 281.)
(*Este conteúdo é parte de um artigo tirado do livro O QUE É RESPEITAR O SHABAT? Copyright © 2008 by Editora e Livraria Sêfer Ltda - Copiado e editado aqui por Costumes Bíblicos)
Leia como os judeus marcam o Sábado, AQUI
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